Momentos - Ausência

Ausência...
Quem por aqui costuma passar ou espreitar, certamente notou uma diferença na frequência com que tenho colocado os meus trabalhos.
Pois é... estive muito ausente desde Janeiro.
Não que a minha criatividade se tenha ido embora... nada disso! Só se escondeu, resguardou-se um pouco... esteve à espera de melhores dias. Soube sempre que eles haviam de chegar, disso nunca duvidou! Apenas considerou que não era oportuno mostrar-se, aparecer. Preferiu aguardar, passar para segundo plano, pois sabia que aquele tempo não era seu. Não era altura de gastar energias com ela... deixou caminho para outras questões que estavam em suspenso, precisavam de respostas e de muita preparação, compreensão e aceitação.
A razão da minha criatividade se ter tornado mais recatada deveu-se ao facto de ter tido uma novidade no dia 01 de Janeiro. Soube que tinha um problema de saúde e que tinha de ser operada. Tinha de fazer uma Tireoidectomia, ou seja, tinha de fazer uma cirurgia para me ser removida a tiróide.
A partir daquele dia as minhas energias dirigiram-se para tudo o que envolveu esta cirurgia, exames, análises, biopsias, consultas disto e daquilo, hospitais, doentes, doenças, médicos, esperas e mais esperas e ainda mais listas de espera para consultas, depois para internamento... internamentos marcados e que não aconteceram por falta de vagas... e isto é apenas a versão mais sintetizada que vos consigo descrever.
Assim se passou o Janeiro e eu a pensar que seria operada (só na minha cabeça mesmo!). Depois veio o Fevereiro com o encaminhamento para o hospital onde ia ser operada, fiz a consulta, explicaram-me que o meu caso não era dos mais urgente e que podia esperar um pouco e marcaram os exames do pré-operatório para Março. Tal como marcado, realizo esses exames e só ai o tempo de espera começa a contar... para eles, é claro, porque para mim, cada dia que passava parecia que tinha a vida em suspenso!
Abril passa e nada de novidades da tão esperada data. Entra Maio, o mês que não vou esquecer. Finalmente é agendada a minha cirurgia, telefonam-me para informar que a minha cirurgia está agendada para dia 7 de Maio e que me devo apresentar no Serviço Cabeça-Pescoço, do IPO, no dia 6, pelas 9h.
Digo-vos que não cheguei às 9h, mas sim às 7.30, não fosse ser um daqueles dias de transito infernal que me fizesse chegar atrasada ao meu mais importante compromisso do ano! Eu é que não ia correu esse risco!
Ás 9h lá estava eu e a minha irmã. Fomos as 1ªs a chegar. Quando me apresentei disseram-me para ir dar uma volta porque os internamentos estavam muito atrasados e assim lá fomos nós gastar dinheiro para o "Chinês"... bolsinhas para isto, bolsinhas para aquilo e um casaquinho porque pode fazer frio... uma bolinha para a Luz para não sentir falta da dona, cetona para tirar o verniz das unhas (esquecimento meu... sim porque foi uma das recomendações da irmã enfermeira e eu mesmo assim esqueci-me!)... ah e lenços de papel (não fosse ficar ranhosa).
A meio da manha voltei para o hospital. A sala de espera já estava cheia de pessoas que, ao contrário de mim, aparentavam estar doentes. Ficamos numa salinha anexa a aguardar a fazer aquilo que mais fiz durante todos estes meses... esperar.
Quando precisei ir à casa de banho pedi à funcionária que me permitisse o acesso à mesma na enfermaria onde iria ser internada, ao que ela me respondeu que a casa de banho era só para "doentes", ao que retorqui ser essa a minha condição. Essa "senha" permitiu-me o acesso ao interior daquele serviço e digo-vos que aquilo foi o confronto com os nossos piores pesadelos... cheguei à casa de banho mas não a utilizei, voltei para trás tão rápido quanto possível.
No final dessa manhã, depois de ter passado por aquela experiência e por toda a ansiedade de um internamento, chamam-me para me dizer que não me podem internar porque não têm vagas e que também não posso ser operada no dia seguinte... na minha cabeça, só consigo pensar... "mais espera... espera... esperaaaaa".
Venho com outra data, dia19 do mesmo mês.
Entretanto a imagem daquele serviço não me sai da cabeça e começo a recuar perante a necessidade de ter de voltar para lá. Começo a ponderar mudar de hospital e acabo por tomar essa decisão. Assim, num instante fiz novos exames pré-operatórios no Hospital da Luz e no dia 2 de Junho dou entrada neste hospital, pelas 11h, para ser operada no mesmo dia às 14h.
Quando soube que a cirurgia seria no dia 2 pensei... excelente dia para ser operada (gosto muito do n.º 2 por ser a data do meu aniversário!).
Esta experiência foi totalmente diferente, para já aquele hospital não parece um hospital! As cores escolhidas, os pormenores (p.ex.: quando vamos já na maca para entrar no bloco o tecto do corredor é envidraçado e nem calculam a paz que aquilo transmite!), tv, rádio, teletexto e Internet num único monitor para cada doente, a privacidade do doente e o facto de estarmos mais protegidos dos "nossos medos", de vermos só doentes, e mais doentes e doentes.
Bom, a operação correu como previsto e eu acordei da cirurgia a tagarelar duma maneira que vocês nem calculam e quando não conseguia a atenção só para mim, estalava os dedos como que a dizer... "Então não foi a mim que vieram visitar? Então dêem-me atenção".
Tive alta a dia 4 e seguiu-se um período de baixa. A recuperação foi boa e apenas fiquei um pouco rouca (que também passará com o tempo).
Durante esse tempo deixei a minha criatividade espreitar um pouco... mas disso falaremos à frente, por isso continuem a espreitar-me!
Antes de terminar gostaria agradecer a algumas pessoas que foram muito importantes durante todo estes longos meses de espera(e isto não tem obrigatoriamente de ser interpretado numa escala de importância, eheheeh...). Então cá vai:

1. à minha irmã, nem vou dizer o porquê de vir em 1º lugar para não inundar este teclado, apenas vou dizer que sei o quanto lhe deve ter custado ter-me escondido a verdade durante o mês de Dezembro e especialmente no Natal (a ti digo-te apenas k vieste em 1º lugar pk me mataste a cabeça e os pés hoje no free-port!);
2. à minha sobrinha, que é a menina mais doce que conheci até hoje e que me abraçou num dia em que me debulhei em lágrimas pk tive um presentinho inesperado... áh, e pk disse "oh tia, dá-me a mão", quando me tiraram os pensos;
3. ao meu pai, sem o qual eu não poderia ter mudado de hospital (e não é k ele lá arranjou coragem de me ir ver ao hospital?!)
4. à maluca da minha prima Sandra que ainda tive de consolar pk só chorava quando soube que eu já sabia (só me saem é cromas!);
5. à paula, à silvia e á vanessa, por, cada uma à sua maneira, me acompanharem, me ouvirem, pelas palavras, por ajudarem na espera, pelo Spa de chocolate, sei lá, por ter a honra de as ter como amigas;
6. à Mari, desde que soube acreditou, tal como eu, que "isto"seria apenas um obstáculo a ultrapassar... êhta gajinha positiva também!;
7. à Lena e à Cati que foram 2 pessoas que conhecia nesta fase e que me ajudaram a me "conhecer" um pouquinho melhor, a ver que gavetas andam mal arrumadas, a serenar os meus medos, a tranquilizar a minha pessoa e que me conduziram a um caminho que irei percorrer e, um dia chegarei lá;
8. No trabalho, à Leontina (k acompanhou a minha irmã na espera da cirurgia!!!) e à minha Chefe, a Dr.ª Maria da Luz que são duas pessoas muito especiais para mim e aos restantes elementos... k sorte eu tenho com uma equipa assim!;
9. à minha Luz (p quem não sabe é a minha gatinha) que entrou na minha vida quando eu mais precisava dela;
10. à Dr.ª Olimpia Cid, a quem ficarei agradecida para sempre! Continue a salvar vidas por muitos e bons anos. A si, um Muito Obrigada.

Às que de vocês tiveram a coragem de ler isto tudo até ao fim, muito obrigada e um beijo grande.

Paula CurlyP